Depois da noite agitada
O descambar da madrugada
O amanhecer em cama incerta
E a manhã procurando a porta aberta,
Ao encontro da razão
Que possa ter escapado em vão
Com o pó, alcoól e comprimido
Enquanto está tudo iludido
Que existe um mundo perfeito
E, contudo, acaba…
Continua semelhante,
Ao que era, inconstante.
As rotinas sem nexo
Num dia a dia complexo.
Para saborear de manhã
O café na esplanada,
De onde o bónus vem na chávena
A vida dos outros detalhada.
Não existe pudor,
Humildade, calor.
Posto em cima da mesa
O bolo e a certeza
De quem foi puta ou santa.
Uma trinca, um olhar espanta;
Um trago, um sussurro,
Sobre o infeliz da aliança
De quem não tem confiança
Para falar, confessar,
O que na alma se possa passar.
No açúcar, a melancolia,
No papel, a nostalgia
De quem não sabe o que escrever
Mas, para além disso, dizer
Que a sociedade, além de perdida,
Foi, é e será o fingir da vida.
Depois do orgasmo matinal,
A vida habitual.
Do esforço irónico, passivo e atroz.
De onde a voz
Ecoa sem som
E continua sem sentido
Deturpada,
A enfrentar o mundo perdido.
Novembro 2007
1 comentário:
Sabes que este é o meu favorito, tão afiadas são as palavras ao transmitir isto mesmo em que vivemos, mas felizmente existem as pessoas como nós que tentam desafiá-lo ao máximo. Continua a escrever, mesmo quando sabes que a escrita mais brilhante vem do maior sangrar da alma vazante...
Adoro-te!
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