sábado, 24 de maio de 2008

Sociavelmente Detestável


Depois da noite agitada

O descambar da madrugada

O amanhecer em cama incerta

E a manhã procurando a porta aberta,

Ao encontro da razão

Que possa ter escapado em vão

Com o pó, alcoól e comprimido

Enquanto está tudo iludido

Que existe um mundo perfeito

E, contudo, acaba…

Continua semelhante,

Ao que era, inconstante.

As rotinas sem nexo

Num dia a dia complexo.

Para saborear de manhã

O café na esplanada,

De onde o bónus vem na chávena

A vida dos outros detalhada.

Não existe pudor,

Humildade, calor.

Posto em cima da mesa

O bolo e a certeza

De quem foi puta ou santa.

Uma trinca, um olhar espanta;

Um trago, um sussurro,

Sobre o infeliz da aliança

De quem não tem confiança

Para falar, confessar,

O que na alma se possa passar.

No açúcar, a melancolia,

No papel, a nostalgia

De quem não sabe o que escrever

Mas, para além disso, dizer

Que a sociedade, além de perdida,

Foi, é e será o fingir da vida.

Depois do orgasmo matinal,

A vida habitual.

Do esforço irónico, passivo e atroz.

De onde a voz

Ecoa sem som

E continua sem sentido

Deturpada,

A enfrentar o mundo perdido.



Novembro 2007




1 comentário:

Anónimo disse...

Sabes que este é o meu favorito, tão afiadas são as palavras ao transmitir isto mesmo em que vivemos, mas felizmente existem as pessoas como nós que tentam desafiá-lo ao máximo. Continua a escrever, mesmo quando sabes que a escrita mais brilhante vem do maior sangrar da alma vazante...
Adoro-te!