terça-feira, 30 de setembro de 2008

A vocês, pessoas



Autistas compulsivos

Medíocres forçados


Tempos descompassados

Destinos desorientados.


Exprimo, espremo, exibo

Os passados passados

Infelizes e descompensados

Dos puros valores desperdiçados.

Panóplias




Panóplias.

Panóplias de coisas confusas no meu interior. Interior esse em que se refundem sentimentos cuja filosofia se entrelaça com as histórias. Histórias essas, infindáveis. Início no desenvolvimento, desenvolvimento no final, final não há.

Panóplias.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

MEMÓRIAS






Assim te conheci.

No Agosto quente

Junto ao paraíso.

Deste-me histórias,

Contaste conchas;

Ouvimos o silêncio

Ribombar no seco.

Chorámos o riso,

Rimos do choro.

Gritámos aos deuses.

Nada mais.


Assim te conheci.

Era Outono

Fazia frio.

Abraçaste-me.

O calor espalhou-se

Pelos corpos excitados.

Sem recusa, sem palavra.

Enrolados na paisagem

Guardada na memória.

Nada mais.


Assim te conheci.

Novembro na fogueira.

Espalhavas sorrisos

Com a guitarra.

A preta pele aclamava

O charme da tua musa.

Improvisavas num só tom.

Melancólico.

Tive sorrisos, olhares,

Amor, momento.

Nada mais.


Assim te conheci.

Numa noite de Lisboa.

Selvagem, exótico, sensual.

Aura brilhante,

Ilusionismo astral.

Incandescente.

Historiador dos sentidos

Cultivador de sensações.

Cruzamento de ruas.

Nada mais.


Assim te conheci.

Para lá de uns anos.

Galanteavas emoções

Com poemas e prosas

Nunca declamadas antes.

Memória alucinante.

Pessoa aventureira

De onde saltam os infinitos

Espaço e tempo.

Palavras, frases,

Dentadas.

Nada mais.


Assim te conheci.

Naquela inauguração.

Expunhas os valores,

A tua intimidade

Sob os olhares reprovadores.

As mentes maléficas

E a snobeira artística.

Pintura, escultura,

Instalação.

Perduram

Não menos que a copulação.

Nada mais.


Assim me conheci.

Imóvel em frente ao espelho.

Dias afim, de noção ligeira.

Reais estradas de tempo na cara.

Sinais do que foi a vida no corpo.

Sozinha, desaproveitada.

Amor-próprio enterrado no poço.

Flacidez, despelada.

Restam memórias,

Pensamentos.

Agora…

É tarde demais.

VOZES





Divagando

De rua em rua.

Garrafas vazias

A beata nua.

Acordo olhando

A mediocridade,

O básico,

O primário.

Não venhas!

Não apareças, é demais!

As capacidades,

Os estatutos

Duma democracia perdida.

Fumo um cigarro.

Acendo outro,

Mais outro atrás.

Nos ouvidos soa algo.

O cérebro já lá foi

Muito mais além,

Não queiras saber

O quanto perdido está.

Consigo encontrar

O carácter, tão elevado,

Ao mais alto cuidado,

Para não ser

Escorraçado!

Básico, nível, contido.



Memórias boas,

Menos más.

Essas outras vêm atrás

Daquele tempo em que senti

A escória penetrar

No inconsciente fugaz.


Falo com ela, a voz

De onde sugo a memória

Ao milésimo ponto

Mais atroz.

Respiro.

Muito fundo.

Sou eu, aqui estou.

Presa.

Confusa.

Fodida.


És tu?

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

INSÓNIAS




Essas putas consumistas do cansaço diário. Aquelas que não deixam cerrar os olhos. As que esporram adrenalina, essa vitamina que nos faz mexer. As cabras fascistas que tocam no céu no nosso nervo mais sensível e mantém a luz acesa. Tudo fica claro quando nos implode a sensação de estenuamento seguido do orgasmo múltiplo que nos mantém a cabeça a rodar durante toda a noite. Aquelas idiotas capitalistas que nos roubam o brio sobre o breu. Nada mais que tirar o nosso rosto descansado e espetar um par de olheiras sob os olhos e uma resma de rugas aqui e ali. Quarto escuro, cama feita, almofada minha. Tudo para um perfeito sonho. Tu a meu lado com a sonolenta respiração ofegante. Abraço-te na esperança de vencer aquelas incontornáveis putas. Nada. Continuo deitada com os sentidos afinados no que não se passa. O sol nasce, o orvalho seca, há vida de novo. Assim encaro mais um dia.