domingo, 3 de maio de 2009

PRESENTE

Palavras alheias que enchem o meu ser de dúvidas confusas. Sussurros que alimentam as mentes dos mais fracos e os guiam tal e qual como querem. Palavras do mal, do ciúme, da inveja. Palavras que transformam o amor em ódio. O amar em duvidar. Como pode alguém gostar de mexer com as mentes alheias, deixar lá os ovos, que mais tarde nascerão em prol do ódio? Como pode alguém odiar algo que não conhece? Meter o bedelho para não sentir a felicidade à sua volta. Odiar o amor. Ou amar o ódio?
Gente fraca. Todos nós temos fraquezas. Gente fraca que ouve e se submete. Que estraga uma vida de sorrisos por causa de palavras soltas de confiança desconfiada.
Gente fraca que fala as tais palavras soltas para poder estragar a vida de quem sorri.
E nós? Que argumento teremos perante estas fraquezas? Que contra argumento poderemos enviar para fazer entender os erros verbais? Para refutar a ignorância reinada pelo ciúme e inveja? O silêncio. É a única solução. O silêncio, sem submissão. Apenas desprezo. Deixá-las atingir umas às outras com a violência verbal. Matem-se por suposições. Morram por palavras! MORRAM! Deixem-me só, para poder viver os sorrisos, a paz de espírito, a felicidade das pequenas coisas! Poder ver a lua na praia, a paisagem composta de vários tons de verde, a formiga que passeia uma migalha de pão. Porquê querer estragar estes momentos mágicos de alguém, nem fazendo parte deles? MORRAM! SOFRAM! LONGE! Não quero que se intrometam na minha vida, tal como eu não me intrometo na vida de ninguém.
Estou rodeada de maldade e não sei como contornar, como me tornar invisível, impune. É impossível passar despercebida quando existem bichos que se entranham devagarinho em nossa vida e nos sussurram canções de escárnio e maldizer aos ouvidos. Lavagem cerebral! Para quê? Para nos verem infelizes. Para nos verem sofrer. Para se rirem sobre a nossa tristeza.
É impossível conseguir escapar. Se não nos afectam directamente, afectarão alguém directo a nós, logo nos afectará de forma indirecta.
Quero fugir. Quero-me isolar. Não quero ninguém. Não confio em ninguém, exceptuando 2 ou 3 seres semelhantes. Quero o meu canto. O meu buraco. A minha solidão. Onde não haja influência maldosa em redor. Quero, quero, quero! Que egoísmo! Que egocentrismo! Que humanismo! Ninguém é perfeito. E eu estou muito longe de o ser!

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

aniversário dos 25

Na noite do meu aniversário, ao invés de o comemorar, uma dor no peito não me deixou mexer. Como qualquer ser humano, assustei-me deveras… uma dor no peito, no lado esquerdo que realmente me atordoava o sistema e não me deixava fazer nada… Sou sempre a última a pôr os pés no hospital, mas dadas as condições, visto que eram 10 da noite e que a Di me fez um ultimato, lá fomos para as urgências do Hospital de Faro.
Realmente, das desgraças faz-se comédia. Estas foram as horas mais surreais que passei num hospital. Começando pelo primeiro balcão, disse que tinha uma forte dor no peito, a senhora que me atendeu ficou assustada, não me fosse ali dar um AVC, e depressa me mandou avançar para a triagem, um segundo balcão. Convém dizer que a minha reacção foi demasiado teatral… quanto mais fita se faz, mais depressa nos atendem. Estava mal, mas não tanto…
Na triagem tive o prazer de ouvir as senhoras enfermeiras falarem do seu jantar do dia anterior, como fizeram os pastelinhos de bacalhau. Também pude assistir a outra conversa acerca de vagas em outros hospitais. Realmente importante para quem está literalmente a morrer num hospital, dada a minha birra do momento… depois desta conversa bastante enriquecedora, perguntou-me o que tinha eu… até me senti a mais naquele gabinete!! Depois de explicar, deixaram-me a apodrecer na sala de espera, a ouvir os gemidos dos velhotes abandonados nos corredores. A minha sorte era a Di, sempre com a sua ironia, que se ria e gozava com a situação…
Em pelo menos 10 enfermeiros que foram passando por lá, só um se preocupava com os velhotes. Movia-se de um para o outro a perguntar se estavam bem, confortáveis, com fome, com frio, com calor. Dava conversa, falava da meteorologia, da vida, só para os entreter. Enquanto os outros miravam vomitando tédio.
Quando fui atendida, a doutora mandou-me fazer uma radiografia. “Ao fundo, à esquerda”, disse ela… mas esqueceu-se do pormenor do é na outra ponta do hospital!! Porque não explicam as coisas como elas são?? Perdi-me, divaguei, vi coisas escabrosas, mas quem tem boca vai a Roma. Cheguei. Assim que a enfermeira me diz: “tire as camisolas e soutien, por favor”, assim o fiz, na sala dos RX, mas não, ela ficou escandalizada e mandou-me ir fazer isso numa salinha… Porque não explicam as coisas como elas são?? Assim que me despachei voltei à sala de espera, onde a Di continuava a criar raízes, fungos, cogumelos. Uma real seca.
Começámos a estupidificar. Gases saíam dos buracos mais privados do nosso corpo, e com isto riamos. Seriam nervos? Não sei, sei que passados uns minutos me deram umas dores fortes que não me deixavam respirar. Chamaram os enfermeiros. Que fizeram eles? Deram-me um copo de água… Estava desidratada, com certeza…
Depois da peidofonia e como estava farta de esperar, dirigi-me ao gabinete da doutora de novo dizendo que me queria ir embora, bastava analisar a minha radiografia e receitar as coisas que tinha a receitar. Ela assim decidiu em dar-me uma injecção no rabo. Disse que não me injectavam nada para o corpo sem me explicarem o que era. Não me queriam dizer, mas dados aos meus devaneios pseudo-religiosos, lá acabaram por me dar os componentes daquele líquido, que eu escrevi, não me fosse dar uma coisa má! (deve-se frisar aqui que sou capaz de usar um medicamento químico uma vez por ano. Não gosto dessas coisas. Sou apologista das plantas. Cada um com a sua panca…) Mandaram-me mais uma vez para a sala de espera, esperar 30 minutos para ver se fazia efeito. Nesses 30 minutos decidi ir dar uma volta com a Di, para sair daquele antro de moribundos. Mas… esqueceram-se de me avisar dos efeitos secundários… mal me pus de pé, caí de cu na cadeira. Nunca tinha experienciado uma moca daquelas… dose de elefante… Porque não explicam as coisas como elas são?? Entretanto lá me compus e andei para fora do hospital…
Ao voltar 30 minutos depois, sentei-me na sala de espera. Aguardava que me chamassem… 30 minutos, uma hora… uma hora e meia… uffff! Afinal não sabiam que tinham que me atender! Nem a mim, nem aos 20 pacientes que lá estavam há horas!! Dei de caras com um bando de médicos a conversarem com as maiores das calmas, acerca de tecnologias. Mais uma vez arrastei-me para o gabinete da doutora, dizendo que continuava cheia de dores no peito, agora com dores no cu e uma pedrada de relaxante muscular… Disse-me: “Não resultou? Então vamos da outra dose… e olhe que vai ter que ficar aqui mais tempo à espera…”. PUTZZZZZZZZZZ com que direito uma médica me diz, com desprezo concentrado, que veja lá… vá morrer longe para não cheirar mal aqui!
Que me aconteceu naquele momento? Fugi. Nunca mais pus lá as unhas!
Foi o aniversário dos meus 25 anos.

sábado, 29 de novembro de 2008

EM FRENTE À IGREJA

Tenho definitivamente que dedicar este texto à Diana, que todos os dias atura as minhas angústias, as minhas revoltas interiores, os meus acessos de loucura. Obrigada Di! =)

Normalmente não falo da minha vida publicamente. Ninguém tem nada a ver com isso, nem eu com a dos outros. Mas de momento, depois de uma experiência socialmente zoológica, tenho que sair da minha rotina literária para me expor por uns minutos, dependendo da vossa paciência.

Dias atrás fiz uma viagem com duas amigas por Portugal. Viagem curta, mas libertadora. Parámos uma noite em Portalegre, visto que tínhamos conhecidos por lá. De manhã, ao acordar, vou com a Diana até ao monte que mais nos despertou a atenção. Alto, com uma escadaria imensa. Uma igreja no topo. Decidimos que andaríamos até lá. Assim foi. Caminhámos, subimos, seguimos um rasto invisível que a natureza nos deixou. Pelo caminho fomos encontrando árvores de fruta e comendo. Nada sabe melhor pela manhã que uma peça de fruta suculenta, biológica, pura. Fomos seguindo, deparámo-nos com um par de cães que nos fizeram derreter. Olhos aprisionados. Encontravam-se num espaço de um metro quadrado, se tanto. Gostávamos de soltá-los, mas quem somos nós para nos opormos às leis da Natureza?

Continuámos o nosso caminho conversando, rindo, angustiando. Pensando. Com a Diana não preciso de muita palavra. Compreendemo-nos perfeitamente sem emitir qualquer tipo de som.

Finalmente conseguimos chegar ao cume do monte, para dizer a verdade, ia literalmente morrendo no meio daquelas escadas infindáveis. As pernas doíam, os pulmões apertavam e a cabeça rodava. Aguentámos. Chegámos ao tão desejado monte. Cheias de sede, por certo desidratadas de tanto esforço corporal. A igreja, ao lado de uma pequena casa de habitação (onde nos apoderámos da mangueira imediatamente!), estava fechada. Com pena nossa.

Ficámos as duas caladas a observar a paisagem, os campos alentejanos com uma paleta de cores fantástica. Aqueles verdes, os castanhos… um pouco de ocre aqui e ali. Só visto mesmo, para conseguir crer.

Depois de um momento introspectivo como este. Depois de termos puxado as energias ao máximo, resolvemos deitar-nos um pouco no chão. À beira do campo, em frente à igreja. Adormecemos. Por dez minutos recebemos a energia que a Mãe Terra nos ofereceu. Por dez minutos descansámos como nunca. Por dez minutos fui totalmente feliz, dotada de uma imensa paz. Elevei-me num alto astral. Só os sentidos estavam apurados. Não tinha nada comigo, mas fui realmente feliz.

Depois desses tão mágicos minutos fomos acordadas por uma parelha de imbecis. Sei que cortei a poesia toda deste texto repentinamente, mas não tenho outras palavras para descrever estes senhores. Parelha-de-Imbecis. Dois meninos, com os seus vinte e poucos. Camisa aos quadrados daquela marca que eu nunca hei-de cheirar. Os óculos de duzentos euros para o estilo. Dois carros, do mais alto calibre, com mais quatro pares de imbecis lá dentro. Vou-vos relembrar que nós nos encontrávamos deitadas no chão, em plena terra energizante. E o que se faz quando se vê duas raparigas simples a dormir em solo térreo? Chamam-nas. Fazem perguntas idiotas. Acordam-nas à pedrada… sim, meus amigos. Verídico. Ao início não ligámos. Levantámos a cabeça, mas dado ao cenário básico com que nos deparámos, achámos que era gastar paleio em vão. Queríamos continuar os nossos sonhos naquele ambiente fantástico. Mas… os rapazes continuavam a atirar pedras (atenção! Eram pedrinhas pequenas e eles atiravam devagar, de maneira a não magoar… realmente não sei o que será pior, atirar uma pedra a um cão para atingir ou atirar amendoins a um elefante com um sorriso idiota só porque está preso), como disse… eles atiravam os calhaus como se nós estivéssemos enjauladas num zoo. Mas divertiam-se. Riam. Sorriam. Achavam o acto mais hilariante das suas vidas. Bateu-me forte. Bateu-me forte aquela atitude. Não pelo acto físico, mas pela atitude medíocre que presenciava. Mais forte me bateu um calhau maiorzinho nas costas, que, num rasgo de estrica electrificante, levantei-me e dirigi-me a eles… não sei onde fui buscar aquela energia. Eu tinha ódio nos olhos. Raiva. O meu corpo estremecia por fora e por dentro. Dirigi-me àquela gente com tanta rapidez com que me levantei. Tinha levado uma injecção de adrenalina psicológica e pura. Assim que me cheguei perto deles, recuaram uns passos. Olharam uns segundos para mim, estava com calças rotas, a roupa suja da terra, descalça e o cabelo todo em pé pela real falta de banho ao longo da viagem. Até umas pedrinhas do solo tinha cravadas na pele da minha bochecha. Juro, se alguma vez alguém nestas condições e a transbordar de raiva me abordasse com esta rapidez, eu borrava-me literalmente de medo…

Aproximei-me e num êxtase de adrenalina comecei a vomitar sentenças que não sei donde vieram. Fui apoderada por uma diarreia verbal, nunca antes experienciada.

Disse-lhes tudo o que tinha a dizer, sem qualquer pudor. Ainda tentei voltar atrás, deitar-me e relaxar, mas não consegui. Muitas mais coisas tinha para vocalizar, para saltarem cá para fora, para serem cuspidas directamente para os ouvidos das pessoas certas. Aquilo que verbalizei, naqueles minutos intensos, não foi directamente para eles, mas para todos os semelhantes putrefactos com que me deparo todos os dias. Foram eles que ouviram.

Não lhes toquei. O único toque físico que fiz foi mesmo quando me agarrei ao colarinho da bonita camisa de um deles, aproximei-me da sua cara e disse com ar de tresloucada: “Com esta camisa eu e a minha filha comíamos durante uma semana. Com esses óculos, matavas a fome a muito boa gente.” Quando tive esta reacção estava com meio corpo enfiado pela janela do carro deles. As portas estavam trancadas. A princípio riram-se mas quando começou a doer a consciência, nem sequer nos olhos me olhavam. Estavam presentes várias pessoas. Homens e mulheres. Dirigi-me a todos sem excepção. Referi que andavam a matar a Mãe Terra, que nos andavam a matar a nós. Que éramos todos semelhantes, desde a lombriga ao Homem. Porquê inferiorizar um ser por ele nos parecer menor? Basicamente foi isso que aconteceu…

De tudo isto, espero que tenha aberto uma luz a alguém. Um acesso de loucura destes, completamente descontrolado, não se vê todos os dias. Habilitei-me a levar porrada daquele batalhão. Não levei. Porquê? Não faço a mínima ideia. A única certeza que tenho é o ódio que senti, nunca antes sentido. Uma encarnação da Mãe Terra no meu corpo. Uma revolta. Depois desta situação chorei. Chorei de raiva compulsivamente durante duas horas. Outros dois dias a chorar aos poucos. Ainda hoje, uma semana depois, corre-me a lágrima no rosto da experiência mais libertadora que tive. Até secarem completamente. Ou não.

Espero que um dia os rapazes que presenciaram o meu acesso de loucura e levaram um sermão directa ou indirectamente, leiam este texto. Desejo-lhes toda a felicidade do mundo. Libertem-se desses trajes desconfortáveis, dessa mente fechada, desse preconceito social. Pensem antes de agir, nunca se sabe onde a Mãe Terra vai estar a encarnar no momento.

Sorriam. Sejam Livres.

Raquel Ançã

29 Novembro 2008

terça-feira, 30 de setembro de 2008

A vocês, pessoas



Autistas compulsivos

Medíocres forçados


Tempos descompassados

Destinos desorientados.


Exprimo, espremo, exibo

Os passados passados

Infelizes e descompensados

Dos puros valores desperdiçados.

Panóplias




Panóplias.

Panóplias de coisas confusas no meu interior. Interior esse em que se refundem sentimentos cuja filosofia se entrelaça com as histórias. Histórias essas, infindáveis. Início no desenvolvimento, desenvolvimento no final, final não há.

Panóplias.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

MEMÓRIAS






Assim te conheci.

No Agosto quente

Junto ao paraíso.

Deste-me histórias,

Contaste conchas;

Ouvimos o silêncio

Ribombar no seco.

Chorámos o riso,

Rimos do choro.

Gritámos aos deuses.

Nada mais.


Assim te conheci.

Era Outono

Fazia frio.

Abraçaste-me.

O calor espalhou-se

Pelos corpos excitados.

Sem recusa, sem palavra.

Enrolados na paisagem

Guardada na memória.

Nada mais.


Assim te conheci.

Novembro na fogueira.

Espalhavas sorrisos

Com a guitarra.

A preta pele aclamava

O charme da tua musa.

Improvisavas num só tom.

Melancólico.

Tive sorrisos, olhares,

Amor, momento.

Nada mais.


Assim te conheci.

Numa noite de Lisboa.

Selvagem, exótico, sensual.

Aura brilhante,

Ilusionismo astral.

Incandescente.

Historiador dos sentidos

Cultivador de sensações.

Cruzamento de ruas.

Nada mais.


Assim te conheci.

Para lá de uns anos.

Galanteavas emoções

Com poemas e prosas

Nunca declamadas antes.

Memória alucinante.

Pessoa aventureira

De onde saltam os infinitos

Espaço e tempo.

Palavras, frases,

Dentadas.

Nada mais.


Assim te conheci.

Naquela inauguração.

Expunhas os valores,

A tua intimidade

Sob os olhares reprovadores.

As mentes maléficas

E a snobeira artística.

Pintura, escultura,

Instalação.

Perduram

Não menos que a copulação.

Nada mais.


Assim me conheci.

Imóvel em frente ao espelho.

Dias afim, de noção ligeira.

Reais estradas de tempo na cara.

Sinais do que foi a vida no corpo.

Sozinha, desaproveitada.

Amor-próprio enterrado no poço.

Flacidez, despelada.

Restam memórias,

Pensamentos.

Agora…

É tarde demais.

VOZES





Divagando

De rua em rua.

Garrafas vazias

A beata nua.

Acordo olhando

A mediocridade,

O básico,

O primário.

Não venhas!

Não apareças, é demais!

As capacidades,

Os estatutos

Duma democracia perdida.

Fumo um cigarro.

Acendo outro,

Mais outro atrás.

Nos ouvidos soa algo.

O cérebro já lá foi

Muito mais além,

Não queiras saber

O quanto perdido está.

Consigo encontrar

O carácter, tão elevado,

Ao mais alto cuidado,

Para não ser

Escorraçado!

Básico, nível, contido.



Memórias boas,

Menos más.

Essas outras vêm atrás

Daquele tempo em que senti

A escória penetrar

No inconsciente fugaz.


Falo com ela, a voz

De onde sugo a memória

Ao milésimo ponto

Mais atroz.

Respiro.

Muito fundo.

Sou eu, aqui estou.

Presa.

Confusa.

Fodida.


És tu?

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

INSÓNIAS




Essas putas consumistas do cansaço diário. Aquelas que não deixam cerrar os olhos. As que esporram adrenalina, essa vitamina que nos faz mexer. As cabras fascistas que tocam no céu no nosso nervo mais sensível e mantém a luz acesa. Tudo fica claro quando nos implode a sensação de estenuamento seguido do orgasmo múltiplo que nos mantém a cabeça a rodar durante toda a noite. Aquelas idiotas capitalistas que nos roubam o brio sobre o breu. Nada mais que tirar o nosso rosto descansado e espetar um par de olheiras sob os olhos e uma resma de rugas aqui e ali. Quarto escuro, cama feita, almofada minha. Tudo para um perfeito sonho. Tu a meu lado com a sonolenta respiração ofegante. Abraço-te na esperança de vencer aquelas incontornáveis putas. Nada. Continuo deitada com os sentidos afinados no que não se passa. O sol nasce, o orvalho seca, há vida de novo. Assim encaro mais um dia.

domingo, 31 de agosto de 2008

INSPIRAÇÃO



Pisco um olho

Para escrever no papel.

A linha já são duas.

Às duas por três,

Não sabes quem tu és…


Assim, às seis da manhã,

No paraíso do meu pensamento,

Esse que me leva a pensar

O pensamento do pensar que (talvez)

Já foi pensado.


Ando aqui a tentar.


Liberdade!

De expressão, de corpo, de cor.

O herói é aquele que um dia conseguiu a atenção desejada.


Mais uma golada!

Caio de cu.

Estou embriagada…


segunda-feira, 23 de junho de 2008

A Minha Filosofia




Este foi o meu ensaio que acompanhou o trabalho de fotografia analógica, no 2º semestre do 1º ano. As fotografias são que estão juntas, pelo menos parte delas... Peço desculpa ao professor pelas divagações e às pessoas a quem possa ofender...


Porquê A Minha Filosofia? Porque não A Minha Praia, A Minha Filha, ou outro tema qualquer? Poderei responder dissertando acerca da minha filosofia de vida.

Ao ir à praia com a minha filha denoto a educação que lhe tenho vindo a dar nestes 5 anos da sua vida. A nossa situação social muitas vezes não é compreendida pelas outras pessoas. O andar descalças, o vestir como nos apetece, o estar nua na praia, o ser LIVRE! O fazer e dizer aquilo que realmente sentimos. Não é socialmente aceite, o Zé Povinho não o compreende. Existem pessoas que realmente merecem uma atenção especial, outras, merecem desprezo e a chamada “conversa de meteorologia”. Não tenho paciência para devaneios sobre coisas superficiais, para gente dotada de burrice extrema. Poderá parecer egoísmo da minha parte, ou mesmo preconceito, mas estou nesta vida para adquirir conhecimento, para absorver tudo o que me faça pensar e filosofar. Quanto à minha filosofia de vida, o mais importante nesta é estar e sentirmo-nos livres. E é isso que tento passar à minha filha. Assim que ela chega à praia, a primeira acção é a de despir a roupa toda, há que aproveitar enquanto se é criança, enquanto não nos temos que tapar por causas pudicas, a segunda é mesmo ir cumprimentar as ondas. Não nos podemos sentir constrangidos por nos sentirmos bem. Gostaria de poder abrir a mente às pessoas, mas fico-me apenas pelo desprezo, pela minha dissertação que mais tarde acabará em ódio. Esta é uma das razões do meu “nomadismo”. Nunca me fixo num sítio. Assim vou contra ao meu estado de vivência. Talvez um dia mais tarde, quando encontrar o sítio perfeito. Gosto de conhecer, de viajar, de recomeçar. Não me é possível viver num local sem definir antes um objectivo. Assim que o cumpro, parto para a aventura numa nova cidade, com novas pessoas, culturas, paisagens, cheiros. Assim nunca me sinto pressionada pela população mais reles, mais incompreensível, mais básica. Tenho esta filosofia mas atenção, não me prendo à cultura ou ás classes sociais. Agrada-me bastante passar um dia inteiro a conversar com um velho pescador. Aprendo sobre a sua profissão, sobre o mar, sobre a lua. Lendas, histórias reais fabulosas. Autênticas aventuras! Daí sim, inspiro-me e sinto-me feliz. Seria agoniante passar um dia a conversar com uma pessoa acerca de roupas, modas, telenovelas, futebol, entre outras coisas primárias que me provocam asco. Sim, passei 3 anos obrigada a trabalhar com esse género de seres humanos/ criaturas. Hoje em dia olho para trás e sei que fizeram parte da minha aprendizagem. Daí, talvez a minha revolta e o sentido radical de “catalogar” as pessoas. Foi agressivo, mas serviu de lição e espero que não tenha de repetir a experiência.

As fotografias que apresento não são mais que a exposição de uma liberdade vivida por uma criança feliz. As crianças são puras até serem influenciadas, e contra isso, não podemos lutar. Os meios de comunicação, as escolas, os professores, a sociedade. Tudo faz parte do crescimento e absorção da ciência da própria criança. Mais tarde é revelada no adulto. E é aqui que nós progenitores, entramos. Encaminhá-los para uma boa vida, ensinando e deixando-os experienciar as coisas boas e más. Não castrando. A minha filha reflecte muito da minha infância. De vez em quando pergunta-me por que é que nos vestimos “assim”, porque é que os colegas e amigos dela não conhecem a música que ela ouve, porque é que eles não sabem o que é o teatro, porque é que não olham para o mundo como nós olhamos… e como explicar isto a uma criança de 5 anos? Cada resposta é alvo de uma nova dúvida. Cada resposta que dermos irá influenciar o seu ser adulto. É uma tarefa complicada ser-se mãe ou pai, é uma grande responsabilidade e um grande prazer! E no olhar dela nota-se sempre a curiosidade de aprender, de absorver o conhecimento na hora. Expresso na fotografia com o grande plano da cara dela, tirada no momento em que uma grande dúvida surgiu na cabeça dela: “Mãe, o que é que os bichinhos dos búzios comem?”. Aqui está uma óptima questão. Ingénua, tão simples mas, ao mesmo tempo, tão complexa. Remete-me o pensamento até à minha infância, onde ás refeições se discutia arte, onde o meu pai fazia com que o estudar fosse uma tarefa divertida, onde, depois da escola, íamos até ao CCB ou à Gulbenkian assistir um concerto de música clássica, ou a uma exposição. Escusado será dizer que não poderia discutir tão bons momentos com os meus colegas, pois a sua rotina era na verdade, ver telenovelas, brincar com os jogos electrónicos ou ir ao centro comecial.

As crianças são o nosso reflexo. Lembra-me de uma história a que tive o desprazer de fazer parte, quando um colega da Madalena, minha filha, brincava com um pau, fazendo de pistola. Andava a matar toda a gente. Perguntei-lhe por que é que em vez de matar, não transformava as pessoas noutras coisas: flores, monstrinhos, animais. Ao que ele, depois de reflectir um pouco responde, ao apontar-me o pau: “Já sei! Vou-te transformar em Playstation!”. Em Playstation?? Fiquei abismada, aterrorizada! A primeira coisa que me passou pela cabeça foi que aquela criança de 5 anos era já um caso perdido! Depois pensei que, por bem de nós todos, não me deveria cruzar com os pais dele. E só mais tarde me apercebi que a minha filha estava diariamente rodeada por mini-pessoas como aquela. Não me importei, sei que não será influenciada. Mas aquele pedaço de gente um dia será um dos nossos governadores, médicos, jornalistas… isso sim, provoca-me ânsias. É um daqueles meninos que vai ao parque infantil e não pode brincar porque suja a roupa, correr, porque se cansa, saltar, porque rompe as calças…

Para concluir a minha dissertação “anti-social”, acrescento que tudo o que nos passa pela vida constrói o nosso carácter. Uns ignoram, outros reflectem. Depende de cada um, da vivência e do objectivo. Esta é a minha filosofia.