segunda-feira, 23 de junho de 2008

A Minha Filosofia




Este foi o meu ensaio que acompanhou o trabalho de fotografia analógica, no 2º semestre do 1º ano. As fotografias são que estão juntas, pelo menos parte delas... Peço desculpa ao professor pelas divagações e às pessoas a quem possa ofender...


Porquê A Minha Filosofia? Porque não A Minha Praia, A Minha Filha, ou outro tema qualquer? Poderei responder dissertando acerca da minha filosofia de vida.

Ao ir à praia com a minha filha denoto a educação que lhe tenho vindo a dar nestes 5 anos da sua vida. A nossa situação social muitas vezes não é compreendida pelas outras pessoas. O andar descalças, o vestir como nos apetece, o estar nua na praia, o ser LIVRE! O fazer e dizer aquilo que realmente sentimos. Não é socialmente aceite, o Zé Povinho não o compreende. Existem pessoas que realmente merecem uma atenção especial, outras, merecem desprezo e a chamada “conversa de meteorologia”. Não tenho paciência para devaneios sobre coisas superficiais, para gente dotada de burrice extrema. Poderá parecer egoísmo da minha parte, ou mesmo preconceito, mas estou nesta vida para adquirir conhecimento, para absorver tudo o que me faça pensar e filosofar. Quanto à minha filosofia de vida, o mais importante nesta é estar e sentirmo-nos livres. E é isso que tento passar à minha filha. Assim que ela chega à praia, a primeira acção é a de despir a roupa toda, há que aproveitar enquanto se é criança, enquanto não nos temos que tapar por causas pudicas, a segunda é mesmo ir cumprimentar as ondas. Não nos podemos sentir constrangidos por nos sentirmos bem. Gostaria de poder abrir a mente às pessoas, mas fico-me apenas pelo desprezo, pela minha dissertação que mais tarde acabará em ódio. Esta é uma das razões do meu “nomadismo”. Nunca me fixo num sítio. Assim vou contra ao meu estado de vivência. Talvez um dia mais tarde, quando encontrar o sítio perfeito. Gosto de conhecer, de viajar, de recomeçar. Não me é possível viver num local sem definir antes um objectivo. Assim que o cumpro, parto para a aventura numa nova cidade, com novas pessoas, culturas, paisagens, cheiros. Assim nunca me sinto pressionada pela população mais reles, mais incompreensível, mais básica. Tenho esta filosofia mas atenção, não me prendo à cultura ou ás classes sociais. Agrada-me bastante passar um dia inteiro a conversar com um velho pescador. Aprendo sobre a sua profissão, sobre o mar, sobre a lua. Lendas, histórias reais fabulosas. Autênticas aventuras! Daí sim, inspiro-me e sinto-me feliz. Seria agoniante passar um dia a conversar com uma pessoa acerca de roupas, modas, telenovelas, futebol, entre outras coisas primárias que me provocam asco. Sim, passei 3 anos obrigada a trabalhar com esse género de seres humanos/ criaturas. Hoje em dia olho para trás e sei que fizeram parte da minha aprendizagem. Daí, talvez a minha revolta e o sentido radical de “catalogar” as pessoas. Foi agressivo, mas serviu de lição e espero que não tenha de repetir a experiência.

As fotografias que apresento não são mais que a exposição de uma liberdade vivida por uma criança feliz. As crianças são puras até serem influenciadas, e contra isso, não podemos lutar. Os meios de comunicação, as escolas, os professores, a sociedade. Tudo faz parte do crescimento e absorção da ciência da própria criança. Mais tarde é revelada no adulto. E é aqui que nós progenitores, entramos. Encaminhá-los para uma boa vida, ensinando e deixando-os experienciar as coisas boas e más. Não castrando. A minha filha reflecte muito da minha infância. De vez em quando pergunta-me por que é que nos vestimos “assim”, porque é que os colegas e amigos dela não conhecem a música que ela ouve, porque é que eles não sabem o que é o teatro, porque é que não olham para o mundo como nós olhamos… e como explicar isto a uma criança de 5 anos? Cada resposta é alvo de uma nova dúvida. Cada resposta que dermos irá influenciar o seu ser adulto. É uma tarefa complicada ser-se mãe ou pai, é uma grande responsabilidade e um grande prazer! E no olhar dela nota-se sempre a curiosidade de aprender, de absorver o conhecimento na hora. Expresso na fotografia com o grande plano da cara dela, tirada no momento em que uma grande dúvida surgiu na cabeça dela: “Mãe, o que é que os bichinhos dos búzios comem?”. Aqui está uma óptima questão. Ingénua, tão simples mas, ao mesmo tempo, tão complexa. Remete-me o pensamento até à minha infância, onde ás refeições se discutia arte, onde o meu pai fazia com que o estudar fosse uma tarefa divertida, onde, depois da escola, íamos até ao CCB ou à Gulbenkian assistir um concerto de música clássica, ou a uma exposição. Escusado será dizer que não poderia discutir tão bons momentos com os meus colegas, pois a sua rotina era na verdade, ver telenovelas, brincar com os jogos electrónicos ou ir ao centro comecial.

As crianças são o nosso reflexo. Lembra-me de uma história a que tive o desprazer de fazer parte, quando um colega da Madalena, minha filha, brincava com um pau, fazendo de pistola. Andava a matar toda a gente. Perguntei-lhe por que é que em vez de matar, não transformava as pessoas noutras coisas: flores, monstrinhos, animais. Ao que ele, depois de reflectir um pouco responde, ao apontar-me o pau: “Já sei! Vou-te transformar em Playstation!”. Em Playstation?? Fiquei abismada, aterrorizada! A primeira coisa que me passou pela cabeça foi que aquela criança de 5 anos era já um caso perdido! Depois pensei que, por bem de nós todos, não me deveria cruzar com os pais dele. E só mais tarde me apercebi que a minha filha estava diariamente rodeada por mini-pessoas como aquela. Não me importei, sei que não será influenciada. Mas aquele pedaço de gente um dia será um dos nossos governadores, médicos, jornalistas… isso sim, provoca-me ânsias. É um daqueles meninos que vai ao parque infantil e não pode brincar porque suja a roupa, correr, porque se cansa, saltar, porque rompe as calças…

Para concluir a minha dissertação “anti-social”, acrescento que tudo o que nos passa pela vida constrói o nosso carácter. Uns ignoram, outros reflectem. Depende de cada um, da vivência e do objectivo. Esta é a minha filosofia.

5 comentários:

Unknown disse...

é por isso que somos crianças.. :))

Unknown disse...

parabens pelo trabalho que é simples e lindo, é quando vejo cenas como estas que tenho ainda mais vontade/saudade de voltar a ser criança. quanto à tua filosofia, a minha é parecida, só nao tenho é a corajem em muitas situaçoes em po-la em pratica, talves se eu tivesse recebido uma educaçao como a que tu das a tua filha, coragem era o que nao me faltaria.... ;)

vagabunda poesia disse...

admiro tua liberdade.......

Anónimo disse...

na qualidade refinade de um adimirável adimirador, te adiro pela tua vontade de tornar as coisas difundidas, te adimiro pela tua expressão, expressão esta que nos dá certeza e credibilidade pelas tuas ações, liberdade de ser e estar, parabens, es um 10!!!

João Sávio/ Cabo/ PE.

Raquel Ançã disse...

Obrigada... afinal de contas temos de deitar cá para fora esta diarreia verbal que nos consome num mundo de injustiças que, apesar de tudo ainda nos consegue ver sorrir todos os dias, por mais difícil que esteja a nossa situação...
abraço João