
Autistas compulsivos
Medíocres forçados
Tempos descompassados
Destinos desorientados.
Exprimo, espremo, exibo
Os passados passados
Infelizes e descompensados
Dos puros valores desperdiçados.
De vez em quando temos uma espinha na garganta que não nos deixa falar, expressar. Aqui deixo as palavras que ficaram por dizer...
Assim te conheci.
No Agosto quente
Junto ao paraíso.
Deste-me histórias,
Contaste conchas;
Ouvimos o silêncio
Ribombar no seco.
Chorámos o riso,
Rimos do choro.
Gritámos aos deuses.
Nada mais.
Assim te conheci.
Era Outono
Fazia frio.
Abraçaste-me.
O calor espalhou-se
Pelos corpos excitados.
Sem recusa, sem palavra.
Enrolados na paisagem
Guardada na memória.
Nada mais.
Assim te conheci.
Novembro na fogueira.
Espalhavas sorrisos
Com a guitarra.
A preta pele aclamava
O charme da tua musa.
Improvisavas num só tom.
Melancólico.
Tive sorrisos, olhares,
Amor, momento.
Nada mais.
Assim te conheci.
Numa noite de Lisboa.
Selvagem, exótico, sensual.
Aura brilhante,
Ilusionismo astral.
Incandescente.
Historiador dos sentidos
Cultivador de sensações.
Cruzamento de ruas.
Nada mais.
Assim te conheci.
Para lá de uns anos.
Galanteavas emoções
Com poemas e prosas
Nunca declamadas antes.
Memória alucinante.
Pessoa aventureira
De onde saltam os infinitos
Espaço e tempo.
Palavras, frases,
Dentadas.
Nada mais.
Assim te conheci.
Naquela inauguração.
Expunhas os valores,
A tua intimidade
Sob os olhares reprovadores.
As mentes maléficas
E a snobeira artística.
Pintura, escultura,
Instalação.
Perduram
Não menos que a copulação.
Nada mais.
Assim me conheci.
Imóvel em frente ao espelho.
Dias afim, de noção ligeira.
Reais estradas de tempo na cara.
Sinais do que foi a vida no corpo.
Sozinha, desaproveitada.
Amor-próprio enterrado no poço.
Flacidez, despelada.
Restam memórias,
Pensamentos.
Agora…
É tarde demais.
Divagando
De rua em rua.
Garrafas vazias
A beata nua.
Acordo olhando
A mediocridade,
O básico,
O primário.
Não venhas!
Não apareças, é demais!
As capacidades,
Os estatutos
Duma democracia perdida.
Fumo um cigarro.
Acendo outro,
Mais outro atrás.
Nos ouvidos soa algo.
O cérebro já lá foi
Muito mais além,
Não queiras saber
O quanto perdido está.
Consigo encontrar
O carácter, tão elevado,
Ao mais alto cuidado,
Para não ser
Escorraçado!
Básico, nível, contido.
Memórias boas,
Menos más.
Essas outras vêm atrás
Daquele tempo em que senti
A escória penetrar
No inconsciente fugaz.
Falo com ela, a voz
De onde sugo a memória
Ao milésimo ponto
Mais atroz.
Respiro.
Muito fundo.
Sou eu, aqui estou.
Presa.
Confusa.
Fodida.
És tu?
Essas putas consumistas do cansaço diário. Aquelas que não deixam cerrar os olhos. As que esporram adrenalina, essa vitamina que nos faz mexer. As cabras fascistas que tocam no céu no nosso nervo mais sensível e mantém a luz acesa. Tudo fica claro quando nos implode a sensação de estenuamento seguido do orgasmo múltiplo que nos mantém a cabeça a rodar durante toda a noite. Aquelas idiotas capitalistas que nos roubam o brio sobre o breu. Nada mais que tirar o nosso rosto descansado e espetar um par de olheiras sob os olhos e uma resma de rugas aqui e ali. Quarto escuro, cama feita, almofada minha. Tudo para um perfeito sonho. Tu a meu lado com a sonolenta respiração ofegante. Abraço-te na esperança de vencer aquelas incontornáveis putas. Nada. Continuo deitada com os sentidos afinados no que não se passa. O sol nasce, o orvalho seca, há vida de novo. Assim encaro mais um dia.